Explorando a Carga Alostática e os seus Biomarcadores Disponíveis

O estresse, como resposta natural do corpo a situações desafiadoras, é essencial para a nossa sobrevivência. No entanto, quando se torna crônico, pode levar ao desgaste e desequilíbrio dos sistemas fisiológicos, impactando negativamente a saúde. Essa sobrecarga é conhecida como carga alostática, um conceito crucial para entender os efeitos do estresse a longo prazo.
Neste artigo, exploraremos a carga alostática, seus principais biomarcadores e como eles podem ser utilizados para avaliar o impacto do estresse na saúde.
O que é Carga Alostática?
A carga alostática representa o custo cumulativo das adaptações do organismo a estressores físicos, emocionais e ambientais. Em outras palavras, é a quantidade de energia necessária para o corpo manter o equilíbrio em face de diversos desafios. Quando essa carga se torna cronicamente elevada, pode levar a uma série de problemas de saúde, como distúrbios cardiovasculares, metabólicos e psicológicos.
Bruce McEwen, popularizou a palavra “alostase” para designar a tentativa do corpo de manter um equilíbrio interno diante de circunstâncias instáveis. A palavra combina os gregos állos (variável) e stásis (estase ou paralização) que juntas produzem algo como “permanecer estático em meio à mudança”. Não podemos prescindir disso e nosso corpo fará um grande esforço para manter esse estado, a ponto de causar desgaste a longo prazo se os estresses não cederem.
Biomarcadores associados à uma alta Carga Alostática
Este desgaste nos mecanismos regulatórios do corpo, que McEwen chama de “carga alostática”, causam uma liberação excessiva e prolongada de, principalmente, Adrenalina (neurotransmissor catecolaminérgico) e o hormônio Cortisol (indicador de exaustão do eixo HPA- Hipotalamo-Pituitária-Adrenal). Esses efeitos fisiológicos no corpo podem causar transtornos mentais, doenças autoimunes e a exaustão do próprio aparato do estresse conectados aos centros emocionais do nosso cérebro e fisiológicos de nosso corpo.
Alguns parâmetros que podem ser utilizados para mensurar a carga alostática:
· Biomarcadores Primários - Correlação imediata com a Função Adrenal:
1. Cortisol
Conhecido como o hormônio do estresse, o cortisol é liberado pelas glândulas suprarrenais em resposta ao estímulo do hormônio adrenocorticotrófico (ACTH). Níveis elevados de cortisol são frequentemente associados a uma carga alostática crônica relacionada à exaustão do eixo HPA.
- Produtos disponíveis: Teste Rápido Quantitativo
ou ELISA (soro, plasma, urina ou saliva)
2. Desidroepiandrosterona (DHEA)
DHEA é frequentemente considerado um hormônio antiestresse devido à sua capacidade de modular a resposta do corpo ao estresse. Ele atua como um antagonista do cortisol, o hormônio do estresse, ajudando a equilibrar os efeitos negativos do cortisol sobre o corpo;
- Produtos disponíveis: ELISA (soro, plasma ou saliva)
3. Adrenalina (Epinefrina) e Noradrenalina (Norepinefrina)
Esses hormônios, que também são considerados neurotransmissores, são liberados quando há estímulo no sistema nervoso simpático em resposta ao estresse agudo. Em situações de estresse prolongado, a liberação contínua desses hormônios pode contribuir para a carga alostática.
- Produtos disponíveis: ELISA (plasma, urina ou dried urine spot)
· Biomarcadores Secundários:
1. BNDF - Fator Neurotrófico derivado do cérebro
O BDNF desempenha um papel crucial na saúde cerebral e na regulação do humor. A carga alostática crônica pode influenciar negativamente os níveis de BDNF, uma vez que o estresse prolongado tem sido associado a alterações no sistema nervoso central, afetando a neuroplasticidade e a função cognitiva.
2. Colesterol
A carga alostática pode afetar os níveis de colesterol de várias maneiras. O estresse crônico pode contribuir para mudanças nos hábitos alimentares, aumentar a produção de colesterol pelas glândulas suprarrenais e afetar negativamente o perfil lipídico, aumentando o risco de doenças cardiovasculares.
- Produtos disponíveis: Teste Rápido Quantitativo de Perfil Lipídico
3. Hemoglobina Glicada (HbA1c)
A relação entre carga alostática e HbA1c está relacionada ao estresse crônico e seus efeitos sobre o metabolismo. O estresse prolongado pode influenciar a regulação glicêmica, levando a alterações nos níveis de glicose no sangue ao longo do tempo, refletindo-se na HbA1c.
- Produtos disponíveis: Teste Rápido Quantitativo de HbA1c
4. Proteína C Reativa (PCR) e Interleucina 6 (IL-6) – Biomarcadores de Inflamação
A carga alostática, especialmente quando associada a estresse crônico, pode desencadear respostas inflamatórias persistentes, elevando os níveis de PCR e IL-6, e indicando um estado inflamatório sistêmico.
- Produtos disponíveis: Teste Rápido Quantitativo de PCR Ultrassensível e de Interleucina 6
, Interleucina 6 ELISA
, e PCR Ultrassensível ELISA em Dried Blood Spot
5. Insulina
A resposta ao estresse pode influenciar a sensibilidade à insulina, contribuindo para desregulações metabólicas em situações de carga alostática.
- Produtos disponíveis: Teste Rápido Quantitativo
e ELISA
6. Dopamina
A dopamina é um neurotransmissor envolvido na regulação do prazer, motivação e recompensa. Níveis desregulados podem influenciar a resposta ao estresse.
- Produtos disponíveis: ELISA (plasma, urina ou dried urine spot)
7. GABA (Ácido gama-aminobutírico)
GABA é um neurotransmissor inibitório que desempenha um papel importante na redução da atividade neural. Alterações nos níveis de GABA podem afetar a resposta ao estresse e a regulação emocional.
- Produtos disponíveis: ELISA (plasma, soro, urina ou dried urine spot)
8. Glutamato
Enquanto o GABA é inibitório, o glutamato é excitatório. Níveis alterados de glutamato podem estar associados a respostas exacerbadas ao estresse.
- Produtos disponíveis: ELISA (plasma, soro, urina ou dried urine spot)
Parâmetros Auxiliares:
- Aferição da pressão arterial sistólica e diastólica
- Índice de massa corporal (IMC)
- Relação cintura-quadril.
Situações que podem levar ao aumento de Carga Alóstatica
- Exposição a estressores frequentes que pode determinar um estado de estresse crônico e repetir excitação fisiológica aumentada;
- Falta de adaptação aos estressores;
- Incapacidade de desligar a resposta ao estresse após o término de um estressor;
- Resposta alostática não suficiente para lidar com o estressor.
Em resposta às exigências ambientais, diferentes sistemas fisiológicos interagem em vários graus de atividades. Os sistemas neuroendócrino e imunológico reagem aos desafios internos ou externos e promover adaptação as ameaças ou adversidades.
A carga alostática reflete o efeito acumulativo de experiências da vida diária que envolvem os eventos cotidianos (situações de vida sutis e duradouras) bem como os grandes desafios (eventos de vida), e inclui as consequências fisiológicas da saúde resultante de comportamentos prejudiciais, como sono insatisfatório e ruptura das doenças circadianas, falta de exercício, tabagismo, consumo de álcool e dieta pouco saudável. Quando os desafios ambientais excederem a capacidade individual de lidar com a situação, então a carga alostática segue como uma transição para um estado extremo onde sistemas de resposta ao estresse são repetidamente ativados e fatores padrões de equilíbrio não são adequados.
Conclusão
A relação entre carga alostática e biomarcadores destaca a interconexão complexa entre estresse crônico e saúde. Esses biomarcadores refletem as respostas adaptativas do corpo a uma carga alostática persistente, proporcionando insights importantes para a compreensão dos impactos do estresse prolongado na saúde geral.
Gerenciar a carga alostática pode ser fundamental para preservar a saúde e prevenir condições associadas ao estresse crônico. Estratégias como a adoção de estilos de vida saudáveis, práticas de redução de estresse e apoio psicossocial podem desempenhar um papel crucial na mitigação desses efeitos.
Referências
MacEwen, S. Bruce- The End of Stress as we know it – Dana Press – New York – 2002
Maté, Gabor- O mito do Normal- Trauma, saúde e cura em mundo doente – Editora Sextante – 2023
Allostatic Load and Its Impact on Health: A Systematic Review - Jenny Guidi, Marcella Lucente, Nicoletta Sonino , Giovanni A. Fava - Psychother Psychosom 2021;90:11–27 DOI: 10.1159/000510696




